Outra Forma

sexta-feira, janeiro 25, 2008

capítulo 014 ... um copo com o Susto

Este Susto é mesmo original, das fachadas que conheço, não há nenhuma que assuste menos e juntos, pela escavação a dentro, seguimos em direcção a uma taberna próxima, juntos com um ganido de um cachorro indigente, mal vestido que aromava uma das cinquenta e sete portas da betesga com mijo violeta, extraído do escaravelho bexigoso. Em poucos anos, formou-se uma fila de cadelas, não menos indigentes, bem vestidas, catando os insectos violeta para alimentarem as suas crias de fortuna não muito crente. Encostámo-nos no mármore, o lugar perfeito que me permite controlar a comunidade de esplanada recolhida, culpa do que se faz valer. Contudo, o seu espírito sentadino nunca morre e tudo é fiscalizado. A decoração é divertida, nas paredes brancas de cal figuravam salpicos vermelhos de sangue, rastos de carnificina e da tão antiga pólvora. Seria implacavelmente fantástico, a presença de pequenas porções de carne humana, devidamente maquilhada, desfacelada e em estado de decomposição, penduradas nestas divisões frias e sem um pouco de alegria. Vá lá, o palhaço desdentado entrou em cena oferecendo um pequeno período de vida a este tédio intrigante, a comunidade afoga-se em risinhos ensinados, o palhaço é mesmo palhaço. Ele abre a porta às comoções dos corações das intituladas damas, ao arrancar um dedo do pé, oferecendo-o a um mendigo esfomeado e reprimido pelas nuvens lacrimejantes, que por ali procurava a sua justiça. Não perdeu tempo, em segundos devorou o dedo, guardando a unha devidamente autografada, para mais tarde recordar.
As palhaçadas continuam, os fiscais aumentam o seu número, é um dos momentos auges, não fosse a desistência do bacano ser necessária para que o sangue seja estancado. O espetáculo continua, agora são os limões que saltam para a mesa, apresentando um bailado típico dos limoeiros, desviando a atenção de alguns comunitários, aplaudindo com o fogo de um dragão que por ali pescava minhocas para a caça.
Fartei-me. Saí pela escavação para entrar de novo no mundo, ao menos simples. O dia acabara de nascer, sem nuvens, libertando aos poucos a floresta de cacimba, criando reflexos espectaculares de uma estrela que nasce, tornando-se num dia prometedor. Decidi descansar, chegando o cú ao chão, vasculho o meu ninho e encontro o tabaco de enrolar, e fabrico calmamente um cigarro. Lentamente, vou-me inteirando da paisagem que me rodeia, em toda esta beleza, nas grandes árvores de cores invisíveis e completamente cobertas de lã, oferecendo-lhes um ar terno e meigo, aqui, num solitário afogado pelo silêncio.

terça-feira, junho 19, 2007

capítulo 013 … afinal não foi no quarto nem quinto capítulo

Dei por mim no seio do deserto, por meio de uma degradante dor de cabeça que fervia com um entusiasmo enérgico, muito presente. Desde logo, tomei as medidas de segurança, desenrosquei-a e molhei-a com a minha muito fresca urina, aliviando-me bastante mas não o bastante pois, ao colocá-la no poiso que lhe é destinado, fiquei quase como novo não fosse a árdua penetração de atmosfera. Ingressei numa expedição arqueológica, via descobrimentos, iniciando escavações na areia com o fim de localizar uma garrafa de oxigénio, onde a validade se encontre dentro do prazo de utilização e só ao fim de mil decímetros cavados, toquei em qualquer coisa, em qualquer coisa um pouco dura, em qualquer coisa diferente, pronto. Para mal dos pecados alheios, a curiosidade obrigou-me a denunciar uma bota, de lavrador, depois uma perna, depois uma nádega, depois a outra perna e o corpo, por fim. Que extravagância esta, dormir aqui a sesta! Tirei-lhe a areia da cabeça mas mesmo assim não me ajudou a reconhecer o sexo. Será um morto? Ou será vivo? Espera aí, eu já vi estas rugas em qualquer cara. Ah! Já sei quem tu és, tu és o meu da novela lá da rua, o pão, o grande D. Juan, o mais belo, o mais desejado, e.t.c. Aproveitei um pontapé extraviado na camada de ar envolvente, para entrar na posse do seu despertar. Pelo barulhento abrir dos estores, o acordar manifesta-se e com uns grunhidozitos meigos, fiz rebentar um petardo de júbilo:
- Zeca! Meu grande javardo! Tu acordaste-me. Temos que comemorar este encontro. Anda, vamos beber um jarro.

terça-feira, junho 12, 2007

capítulo 012 ... ...

A paisagem, de camioneta em camioneta, muda a sua mobília apagando a selva e desenhando um vazio um nada nutrido de lixo. Contudo, apercebi-me que se estancasse a mesma paisagem, as manobras continuavam ao mesmo ritmo. A grande estrela, ao tingir-se de laranja, apresentou-se-me terrivelmente apetitosa criando cá umas vontades de saciar a goela, como os dependentes à veia; não perdi tempo, apanhei um pêro dos mouros e coloquei-o no devido lugar, devorando de seguida aquela deliciosa fruta ao som do abandono das perspectivas para um entardecer romântico, que se avizinhava. O dia era agora, cheio de amarelo brilhante e de calor denso, deixando em silêncio as trevas, apeadas na paragem do autocarro, à espera de transporte.

domingo, junho 10, 2007

capítulo 011 ... checking email

Uma motorizada aproxima-se com um enorme saco de couro castanho, familiar da minha memória, pilotada por um capacete azul claro de fibra que ao parar, se abriu em dois facilitando assim, a saída do carteiro gordo de faces rosadas, oferta típica do branquinho com mistura, ficando por pouco tempo azuladas perante o odor ocre, que se me fazia transportar. Fez-me sinal para esperar e saltou para o interior da sua sacola com um ar aventureiro, na busca da carta perdida, com a carta e bússola mas, sem azimute determinado. A temperatura era amena, ideal para apanhar seca numa fila que não demorou muito a formar-se por adeptos oriundos de todos os azimutes, incluindo talvez, o do carteiro, sequiosos por uma seca, para se poderem lamentar da sua vida. Comecei a encher-me de conversas comerciais, de ouvir a primeira vez e ficar farto e como o distribuidor de cartas deve andar a deriva na selva de papel, peguei numa carta, perdida no topo das outras e caminhando, abri-a, transbordando curiosidade pelos olhos fora. Era um auto de queixa, elaborado pelo meu pé, onde vinham descrito os actos incómodos de um passageiro clandestino, no interior do meu chinelo. (...) Mas!? Ao tempo que não uso chinelos! Bom, nunca e tarde para resolver os problemas alheios e como tal, extrai um sapato a sorte e verifico com alegria que o intruso era simplesmente uma fonte de água mineral. Instintivamente mergulho, com o desejo ambicionado de me poder sentir como novo. Assim, sim! Este, e o melhor banho da minha morte:
Parecia o Rei, Sua Majestade
Sem espada nem escudo,
Sem o dito sangue real
Mas digno de tal
Ate cheguei a ouvir os aplausos do pessoal lá da vala, inspirando-me um momento afortunado, o que me incentivou a afastar daquele ponto com acre, por tudo onde era odor. Um carreiro imprevisto tropeçou em mim, não me deixando pensar cinco vezes para rumar por ele fora. A algum sítio ele vai dar.

quarta-feira, abril 12, 2006

capítulo 010 ... por fim

Quando me habituei à forte luz da estrela mãe afiei os meus olhos, cheios de pavor com o vomitado divulgado por terra, resultado de uma indigestão manifestada pelo comício das revolucionarias e da seita lesmática que fizeram com que, o indisposto do hipopótamo arrojasse por entre dentes, que mais pareciam estátuas decoradas pela cárie. Decidi descer, pouco crente daquela situação que nem os despreconceituosos dos meus tetravós conseguiriam inventar, nas suas histórias de embalar.

capítulo 009 ... um toque de indiana

No regresso, ainda poderia contar umas quantas dúzias de estrelas e as minhas olheiras eram apoderadas de uma dúzia de sinfonias. Ainda estonteado, observo a estátua com gravuras, datadas num século desconhecido, um tanto acanhadas, respeitante ao meu centro, pois mostravam fogueiras com espetos animados, espetando calhaus espetados por baixo do fogo, onde assavam. Abano a cornadura, por modo a facilitar a saída deste zumbido que, mais já parece o som do vento, ritmado por alguma máquina maluca, consequência do progresso, obrigando um peão enorme coberto por cinzento metalizado e que se encontrava no topo da caverna, a sentar-se num baloiço vanguardista e requisitar o gozo de baloiçar, mediante a boa vontade, do respectivo bilhete pago. O barulho vai aumentando, notando-se a semelhança com uma queda de água, de quando a quando houve-se estrondos, atinentes ao câmbio de ecos, provenientes lá do fundo; repentinos tremores de terra relembram-me aquele que sucedeu lá nas ilhas, pelo qual não filtrei, dificultando-me o assoar do meu nariz enquanto tentava encontrar, nos meus bolsos, a enciclopédia universal. O som torna-se mais denso tornando a água mais longe das suas quedas e mais próxima de mim, o eco foi abafado pelo suborno dos grandes estrondos, já nas redondezas. No escuro, a minha imaginação ouve o ruir de uma barragem e que vejo água gaseificada, na minha direcção. Não, água não é, mas é líquido. Que fantástico!- SOCORRO! - gritei - "HELP!" - gritei de novo, na esperança de que algum turista por ali passasse, o que não aconteceu. Fui envolvido naquela trapalhada sufocante e à chegada de um brilho enorme esqueci-me de tudo e de todos, excepto de mim. Então, numa queda líquida mergulhei um abraço a uma árvore que passeava as suas folhas.

capítulo 008 ... no dente gigante!!!

Arrotavam com suavidade, de satisfação, provocando o sono perpétuo da vitória digna de aves de rapina, comemorando os concertos empoeirados, aguardando a morte da vítima. Os músicos decidem fazer um intervalo, e o momento esperado pelas formigas, que revoltadas explodem com grande alarido, os abutres abalam assustados; já do outro lado, a Liga Proteccionista das Lesmas, iniciava o cerco às industriais com a intenção de vingar a ajuda não prestada, a pobre e pequenita associada. Adivinho-me no interior de uma casa de maquinas de um bote, onde interceptei um grunhido. Com que, a ajuda de uma mola, projecto-me do solo e inicio o esplêndido "sprint" acompanhado pela seita e revolucionárias, ultrapassando a meta isolado acelerando mais ainda e ultrapassando a barreira do som, olho para trás e não vejo ninguém; quando olho para o itinerário, pressinto que não tenho travões e que vou embater numa estátua de marfim de cor amarelada. Ploc! Espectacular e estrondoso acidente, este.

capítulo 007 ... oportunidades

Esperei naquela bastante incomoda posição durante quarenta e sete segundos, produzindo a minha desistência, perante a chegada tão inopinada de abutres fornicantes que instalaram desde logo, a eminência da virgindade anal se perder. O mesmo não aconteceu com a lesma, que distraída enquanto aguardava o sinal de arranque, em três tempos perdeu os nove (devido ao seu tamanho familiar). Bom, foi uma choradeira tal que as formigas da sub/cave banharam-se em água salgada, pela primeira vez. Coitadinhas, são tão trabalhadeiras, iniciaram sem perder tempo, a industrialização de artigos para a pesca de cetáceos, "investimento com futuro", pensei. Sentei-me junto da pobrezinha, tentando levantar a sua moral, fazendo-a crer que qualquer dia seria o último, e para mais, perder ou ganhar e desporto. Convenci-a, acabou com o seu pranto, chutando um sorriso abafado pelo seu ranho típico, alegando muito desportivamente, a vontade de desistir de correr, o que foi aceite pela Federação de Atletas Menos Rápidos. Contudo, os problemas surgiram na zona industrial: a lagoa secou e mais uma fábrica abriu falência. Sorte dos seus proprietários, que a nacionalizaram a tempo e horas.

capítulo 006 ... uma corridinha?

Que raio! Não encontro a entrada e temo a possibilidade de me perder nestes túneis sem paredes, nestas curvas diagonais um tanto precipitadas e que se tornam enormes a medida que progrido. A sensação do esófago seco deseja atormentar a minha prova de topografia e se houvesse um bar perdido como eu tudo seria mais fácil. Eis senão quando, uma brilhante e enorme luzinha, bem lá no fundo, me deixou esverdeado. Desato um "sprint" em sua direcção até que me lembro que só me habituara a fazê-lo em provas de oitenta dezenas de decímetros. Desato outro "sprint" em regresso ao ponto de partida para dar início à corrida. Pedi a comparência de uma lesma, que se encontrava sentada nas bancadas, para se tornar uma competição desequilibrada com a vantagem justa de meio decímetro para mim. Uma mosca, que observava esta situação ridícula, ofereceu-se para o lugar de juiz da prova:
- Ao meu grunhido, vocês dão início à corrida - indagou com um zumbido imperativo, digno da sua responsabilidade - Aos seus lugares... Preparar...

capítulo 005 ... de saída

Afastei-me. O bedame tal modo entranhado já transbordava pelo meu nariz, modelo tromba, obrigando-me a exalar o odor da minha cave, deliciando-me e evitando esses assassinos anti-aromáticos, que enchem tudo o que é comércio com aerossóis... e adeus ozono. A menina da recepção, um ícone de beleza rara, apesar da pogoníase ser bem visível, dirige-se a passos curtos e rápidos, torneando bem demais as ancas, a um microfone e com uma voz de contrabaixo, começa a cuspir: "Bem-vindo ao Decitropolitano. É favor aproximarem-se, próximo da linha mais próxima porque vem próximo, o próximo transporte". Aproximei-me. Simplesmente, fiquei pregado no chão e de boca escancarada, não sei se por admiração ou pelas dores provocadas pelos pregos, ao apreciar nas linhas-férreas do Decímetro X 10, N gerações de ratazanas, sendo a ultima demarcada pelos Ratus Erectus. Nunca vi tantos tinhosos juntos! Não aguentei, procurei logo de seguida a entrada deste Decitropolitano, por onde eu saí.

capítulo 004 ... a vaca vitória

Num tijolo, que vomitava um som sumido, de fundo negro sem paredes, sentei-me dando as boas trevas não tendo sido correspondido. Um deles, pegando numa faísca, acendeu cautelosamente o seu cachimbo, lançando grunhidos de prazer intoxicado e com um semblante filosófico começou a gemer:
- Queres que te conte uma história? - Acenei logo que queria, contudo, o outro, sem mexer a cabeça, ofereceu-lhe um olhar suplicando que não contasse a história da vaca Vitória, pois era muito longa e chata - comecemos então: Era uma vez uma vaca chamada Vitória com o nome artístico de Irene, dava muito leite, mas um dia, ela morreu... E acabou a historia.O seu companheiro de noites curtas, estudante e amante de Gel Vicenti, respondeu num tom arcaico:
- Comede-la, que vos preste.
Foi então que a plebe, sita na vala comum, aclamou até ao regresso definitivo do sono profundo, característico dos mortos-vivos ainda existentes no grande canil.

capítulo 003 ... no Decitropolitano

Desci umas escadas, que subiam até penetrar na escuridão. O comportamento tardígrado durou poucos decímetros e com a ajuda de um soco no olho esquerdo iniciei o estudo da claridade, através de uma fogueira, fábrica de calor iluminado.
Aproximei-me. Rodeavam-na, dois indigentes que transbordavam o seu odor, por tudo, onde não era sítio.Trajavam um tanto indescritivelmente em relação ao tempo, no entanto, notava-se que demarcavam eras diferentes da civilização que pensámos que fora a nossa, pois um deles vestia uma barba e cabelos longínquos cobertos por um tecido branco sujo, podre, salpicado pelas facadas consequentes da relativamente recente matança do porcélio, calçava umas sandálias de sebo perfuradas pelas unhas, que se manifestavam por um meio de um peditório, perante a necessidade urgente de serem aparadas.
Quanto ao seu companheiro, não tendo hábitos mais higiénicos e não vestindo barbas menos compridas, já usava um turbante de cores folclóricas que até me fizeram lembrar o rancho lá da terra (claro que para lhe chegar aos calcantes, teria de ser instruído a pratica do alpinismo), a sua face repleta de rugas, sinal de experiência conseguida a ferros de esteta, era de aparência idosa e grave, possivelmente de reformado, com a presença de um sorriso burocrático ao assinar o tratado de guerra.

terça-feira, abril 11, 2006

capítulo 002 ... o início

As flores enfeitam a minha passagem dando-lhe um tom de vida, presente do arco-íris pelo seu enorme aglomerado e diferentes tons de música capazes de formarem uma banda sinfónica chegando mesmo a invejar a tão famigerada banda dos transportes colectivos. Claro, a minha tardia concepção da realidade fez-me reconhecer mais uma vez, um morto, pouco curto de vista, já que, afinal de contas, esta paisagem florejante não e de carne e osso mas sim de pedra. No entanto, a sua arte de empregar as tropas amigas no terreno onde devem progredir era deveras interessante, dos botões, abriam-se pequenas cavernas que se mostravam maiores, consequência de um crescimento acelerado, provocado pela grande precipitação estimulante e anual de café expresso. Adiante, as cavernas já adultas tinham todas uma letra maiúscula, em cada frente e após ter ponderado, durante o alfabeto, decidi penetrar na letra D.

capítulo 001 ... o despertar?

Acordei. Acho que acordei. Que sonho estranho, mas...?! Que cama é esta?! Sento-me e observo as cores lisas, coloridas de uma forma estranha, que não determino, nestas paredes sem fim. Imagino o tecto, levantando-me, mas sou empurrado pelas vertigens, esgotando o equilíbrio e caindo do segundo para o sétimo andar. Assustei-me, levanto-me rapidamente o que originou um desastroso acidente com um dos ramos superiores e com a minha cabeça, deixando-me voar de alas fechadas, da árvore onde descansava. Sorte minha foi uma dúzia de toneladas de fardos de palha encontarem-se mesmo por cima. Ui! Como dóiem estas costelas. Torço-me lentamente verificando se algo estava mal e por azar tudo se encontrava bem, espreguiço os músculos do nariz e respiro o ar puro e selvagem, desta floresta, oferecendo uma felicidade relativamente louca aos meus pulmões. Esfrego a cara com os pés, após ter procurado uma poça de lama para me lavar, mas sem êxito, pego no ninho e parto daquele lugar palhento sem meta nem itinerário.

capítulo 000 ... o soldadinho de chumbo?

As trevas chegaram. O soldadinho de chumbo voltou-se, olhou a Lua bem disposta e comentou para com os seus colarinhos, engomados: "As trevas e ela são companheiras de sangue. Nem a maior tempestade, jamais sofrida, ou que se venha a sofrer, conseguiria separá-las. Pobres das sopeiras!"Com uma brisa amena e leve, um odor densamente activo aproximou-se-me, deixando-me um pouco confuso quanto à sua origem. Que esquisito! Talvez fosse dessas culinárias orientais. Nesse preciso momento vejo uma silhueta um tanto sinistra, sem conseguir definir a respectiva classe, ordem e família. Consigo ouvir um pranto infantil, muito sumido é certo, mas infantil. Sinto uma estranha perda de noção de tempo e espaço, estou mesmo a leste.
A Lua é enorme, nunca a vi daquele tamanho. A Terra toma formas estranhas e diferentes, eleva-se com vagas de cinco... não, de seis decímetros de profundidade, as árvores fugiram pelo rasto provocado, o calor aumenta surpreendentemente, estrelando até, ovos reduzidos à escala de 1:50 nas cabeças dos dedos. Não aguento mais, é quase a total perda do vigésimo primeiro sentido; viro-me às cabeçadas a mim próprio até que me perco de todos os sentidos!!!...
Ao abrir os olhos tento observar o que me rodeia, levantando as orelhas, todavia, as tonturas obrigam-me a descansar um pouco mais. Passados uns anos abri os estores de novo e reparo na existência de claridade um tanto escura demais para lhe chamar dia. Contudo, as trevas já adormeceram. Raios! Arduamente me sento ajudado pelas artérias, que rebentam de dores astronómicas. Observo a paisagem, o pânico apodera-se de mim, desato num berreiro tal que não cheguei a ouvi-lo. Oh! Como eu aconteço ao tentar perceber este sufoco. Mas... a Terra?! Onde é que ela se meteu? "Pilinhas" de tartaruga me fecundem se possuo algum conhecimento sobre este fenómeno. Não me recordo desta matéria na Introdução à Política, tudo isto é tão fantástico, tão impossível. Estas cores, tão artificiais. Onde estou?...
Enfim, acabo por aceitar esta comédia, enlouquecendo, sem nunca ter percebido e desistindo de tentar perceber a forma ideal de complicar o tráfego de fogareiros. Sinto-me um morto sem vida mas, sem tão pouco a senti-la. Não vejo o que piso, não piso o que vejo... sou só, nesta espécie de solo todo igual, todo diferente.Foi um forte apertão no ombro que tornou possível ao terror espantado apoderar-se da minha pessoa, esmagando assim, a minha mistura adrenalinosa e só ao reparar no agente de seguros, que é um belíssimo advogado, consegui despojar o terror, ficando o espanto para mais um copo. Era o soldadinho de chumbo, com os seus colarinhos, já não tão engomados, que parecia muito radiante por ver alguém. Tentei falar-lhe, mas sem sucesso, pois lembrei-me que esquecera. Ele simplesmente ri com um semblante de gozo pelo facto de lhe não conseguir emitir um som. Teimo na comunicação, desta feita, através de gestos. Parou de rir fixando os olhos seus nos meus. A sua expressão, então, de milésimos em milésimos de segundos muda, a aparente alegria facial tornou-se dura, carrancuda. Ao falar-me apercebe-se que não o ouço e então berra, ele berra, berra cada vez com mais força, ele berra em harmonia com a produção sonora de um pássaro ferroviário e percebo: "Zeca, acorda que já são horas e a cama precisa de descansar".

...personagens...

José Cipriano Ferreira
sim, sou eu. Sou eu que faço a história. Tudo acontece quando eu quero e estou sempre onde quero estar nesse instante.

John Susto e Silva
O meu amigo mais antigo. Conheço-o desde o quarto ou quinto capítulo.

quarta-feira, abril 27, 2005

...quero ser escritor

Melhor ainda, quero saber escrever, bem. E só assim poderei descrever o que me rodeia, na forma como o vejo e sinto.